Vertov e o kinokismo

L.E.Geara

O revolucionário cineasta soviético, Dziga Vertov, é conhecido por sua abordagem inovadora ao cinema documental. Vertov buscava transformar o cinema em uma ferramenta de mudança social, capturando a realidade de forma direta e sem adornos, sempre com o objetivo de promover os ideais da revolução soviética. Ele foi um dos pioneiros na técnica de montagem, utilizando cortes rápidos e justaposições para criar significados e emoções específicas.

Dziga Vertov – Denis Arkadievitch Kaufman

A montagem tornara-se uma ferramenta essencial para a construção de um cinema revolucionário, foi um dos primeiros a explorar a montagem como uma ferramenta para criar significados e emoções específicas. Serguei Eisenstein reconheceu a importância da montagem de Vertov e desenvolveu suas próprias teorias, como a “montagem de atrações”, que se baseava na justaposição de imagens para provocar uma resposta emocional no espectador.

Com o foco no documentário e na realidade proletária, Vertov acreditava que o cinema deveria ser um meio de educação e transformação social, mostrando a vida real e as lutas do proletariado. Declaradamente contra o cinema ficcional e o sentimentalismo burguês, influenciou Eisenstein a considerar o potencial do cinema como um meio de educação e mobilização política.

O espírito de experimentação de Vertov, com sua teoria do cine-olho – a “cine-sensação do mundo”, buscava capturar a realidade de maneira objetiva e inovadora, acreditando que a câmera poderia captar a realidade de uma forma mais pura e objetiva do que o olho humano. Ele defendia o uso do cine-olho para revelar verdades ocultas e criar uma nova linguagem cinematográfica. Vertov e seu grupo, o Conselho dos Três ou Soviet dos Três (Vertov, Elisabeta Svilovase), recusavam-se a serem chamados de “cineastas”, preferindo autodenominar-se “kinoks”, pois, para o grupo, a “morte da cinematografia era indispensável para o cinema viver”.

O irmão de Dziga Vertov, Mikhail Kaufman – Um Homem com uma Câmera (1929)

Os princípios de Vertov podem ser identificados na produção audiovisual atual das mídias sociais, adaptando-se às novas tecnologias e plataformas para continuar capturando e moldando a realidade de maneiras inovadoras. Muitos criadores de conteúdo nas mídias sociais utilizam vídeos não roteirizados e espontâneos para mostrar a vida cotidiana. A autenticidade é valorizada, e vídeos “crus” e sem edição pesada são comuns. Mais paralelos podem ser traçados entre os “kinoks” e as mídias sociais.

Acesso e Democratização, atualmente qualquer pessoa com um smartphone pode criar e compartilhar conteúdo, alcançando um público global.
Edição Rápida e dinâmica são essencias para manter a atenção do público, com vídeos curtos e impactantes que utilizam técnicas de montagem para contar histórias de forma eficiente.
Criadores de conteúdo nas mídias sociais utilizam suas plataformas para promover causas sociais e políticas, sensibilizando e mobilizando seus seguidores.
Experimentação e Inovação são constantes, com criadores testando novos formatos, efeitos visuais e interações para engajar o público.

Um Homem com uma Câmera – Dziga Vertov, 1929

Referências:
O Cine-Trem, o Cine-Olho e a Revolução Russa – CineMovimento: Audiovisual e Lutas Sociais (wordpress.com)

Nós — Variações do Manifesto (contracampo.com.br)

‘Cine-olho’: a vida real no cinema soviético de Dziga Vertov – Opera Mundi (uol.com.br)

Cine-Olho: manifestos, projetos e outros escritos, de Dziga Viértov – Piparote (revistapiparote.com.br)

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