


















Cada um alcança a verdade que é capaz de suportar.
a linguagem é a chave para compreender a mente humana
a psicanálise deveria se concentrar no discurso e na linguagem dos pacientes
o inconsciente não é um reservatório de desejos reprimidos, como Freud afirmava, mas sim uma estrutura linguística complexa que influencia a maneira como as pessoas percebem a si mesmas e ao mundo ao seu redor.
Real é o mundo físico e material,
Imaginário é a percepção subjetiva da realidade
Simbólico é a linguagem e a cultura que moldam nossas experiências.
Esses três conceitos interagem entre si para criar a experiência humana.
Toda arte se caracteriza por um certo modo de organização em torno de um vazio
É diante de Gaia que somos chamados a comparecer”52 (LATOUR, 2012b, p. 21).
Um homem competente é um homem que se engana segundo as regras
Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de não se deixar distinguir.
via; https://www.instagram.com/alksko/
Adorno delimita claramente sua visão sobre o conceito e propaga em seus textos e reflexões, em suma, que arte e indústria cultural são coisas distintas na medida em que a primeira seria eliminada pela segunda. Segundo ele, a indústria cultural traz uma experiência de integração com o sistema capitalista. A técnica, portanto, exerceria um controle maior sobre a sociedade, estando as manifestações estéticas da indústria cultural a serviço da mercantilização da arte. Arte é mais um produto na prateleira. Dentro desta visão, o engajamento político do artista seria sempre insuficiente e estaria inevitavelmente fadado ao fracasso, já que a indústria cultural sim ou sim neutralizaria todas as formas de rebeldia e de elaborações que em qualquer medida, buscassem se colocar na contramão ideológica ou estética dessa indústria. Assim sendo, caberia à “verdadeira arte“ , “intocada“ pela indústria, contentar-se em ser uma espécie de “crítica negativa”. E pronto.
As reflexões e as práticas de Benjamin e Brecht são distintas da visão aristocrática e derrotista de Adorno.
Adorno
Se durante séculos a arte foi posta a serviço do ritual (mágico e religioso), que fundamentava-se em objetos únicos a serem cultuados, no mundo contemporâneo a arte liberta-se da sua função ritualística e portanto, do seu valor de culto, para se fundamentar numa nova práxis: a política. Não se pretende mais que a arte seja um privilégio, mas que seja vista com mais organicidade e como parte do processo histórico e cultural.
Sabemos que no decorrer de toda a história da humanidade as manifestações artísticas são reflexo e refluxo das lutas, avanços e processos históricos e sociais, e em diversos momentos, foram marco fundamental, sendo ponte entre o campo simbólico e subjetivo e a materialidade em si, traduzindo o pensamento e as sensações em suas mais diversas linguagens.
É evidente que para a arte revolucionária não poderia e não pode existir um programa estético fechado. E logicamente que o crescente controle do capital sobre a produção cultural é um fato inquestionável: transformar a arte em anestésico, em distração é mais um dos ataques do capitalismo e do imperialismo no sentido de fazer valer seus valores ideológicos. Contudo, esse mecanismo de eterna repetição, enlatando a arte e colocando-a na esteira da linha de produção da indústria cultural por mais que tente, não elimina a luta de classes: o movimento dialético permite a apropriação e a criação de meios de produção culturais independentes; e neste sentido o teatro de Brecht ainda é uma importante referência para que espaço cênico seja não mais espaço de magia e ritual e sim uma tribuna que traga a tona os novos meios de produção, e que ator e público, iguais, articulam-se da construção de uma reflexão sobre os fatos sociais; onde o estranhamento possibilita o despertar do pensamento crítico, em contraposição aos moldes dramáticos de elaboração e interpretação.
Leon Trotsky by Robert Capa – Copenhagen (1932)
Já disse Trotski sobre o que fará a nova arte: é hoje mais do que nunca, o impulso que nos levará a uma compreensão mais madura sobre os questionamentos que nos invadem diariamente sobre o que, porque e com quem queremos estabelecer diálogo. E mais: absorver profundamente que valer-se do materialismo histórico e dialético é mais que uma necessidade filosófica hoje. É armar-se de conteúdo diante do avanço das forças reacionárias. É compreender a importância da arte revolucionária neste combate simbólico mas ao mesmo tempo, compreender que a arte revolucionária não é um estilo, um clube, um capricho cultural, mas um projeto que responde às determinações da história, e que portanto (e obviamente) nada tem a ver com liberalismo. E retomar com esse espírito Breton e Trotski defendendo com unhas e dentes “TODA LICENÇA EM ARTE” no marco de compreender e extrapolar.
direito ao pão e à poesia!
via:
https://www.esquerdadiario.com.br/A-importancia-da-arte-revolucionaria-na-luta-de-classes
Christian Dunker explora o perfil psicológico dos bolsonaristas e como os sonhos não cumpridos na era PT são encarados como traições.(entrevista de Nayara Felizardo para o The Intercept Brasil)
Uma parte imortante dos eleitores de Bolsonaro é composta por pessoas que obtiveram muitos benefícios, principalmente nos dois primeiros mandatos de Lula [de 2003 a 2006 e de 2007 a 2010]. É uma classe trabalhadora que conseguiu galgar alguma ascensão social – se deslocaram da miséria para pobreza ou da pobreza para a classe média. Esse processo não é simples do ponto de vista subjetivo, porque ele facilmente pode se verter em decepção. Houve um aumento expressivo de alunos nas universidades, que puderam ter acesso a profissões mais qualificadas. Com um diploma, imaginaram que os empregos iam sorrir para eles e que teriam uma ascensão maior ainda. Na medida em que a universidade não se traduz em aumento real de renda, essas pessoas se voltam para a parte não realizada dos sonhos prometidos. Isso se transforma em ressentimento e em um sentimento de traição. Eles se voltam com uma certa agressividade, com um certo ódio, para aqueles em quem localizam a falsa promessa. Ela não está associada ao governo atual, que age como se não fosse propriamente um governo, mas com aquilo que representa o estado para a maioria das pessoas, ou seja, Dilma e Lula.
Outra parcela dos que estão votando contra Lula é ligada ao conservadorismo e à ideia de buscar uma forma autocrática para administrar a coisa pública. As classes média e alta interpretam que o Brasil tem excesso de regras não cumpridas, com complicações burocráticas, em que o estado tem uma função limitadora e não deixa as coisas acontecerem, porque se cria regras para se aproveitar delas por meio da corrupção. Já os mais pobres acham que está havendo um rapto do seu prazer e que seus ganhos não se realizaram, porque foram desviados pelo PT, pelo Lula. Um lado, portanto, sente o estado como um empecilho e, o outro, como uma instância intrusiva e pouco eficiente na promoção de educação e saúde.
O discurso da corrupção capta muito bem esse sentimento de traição em relação aos governos do PT. As pessoas não percebem que houve uma regressão causada por má administração nos últimos anos. Todo retrocesso que sentem agora passa a confirmar a teoria da decepção. A corrupção de Bolsonaro também é conhecida, mas não afeta a performance do candidato, porque ela não cai na chave do ressentimento. Em um ambiente de complexidade de determinações, é compreensível que soluções mais simplificadas ganhem relevo, como a retórica de que Lula roubou e isso quebrou o Brasil.
A gente pune o passado a partir do que transformamos no presente e a partir da redução do nosso futuro. É isso que vem acontecendo com o governo Bolsonaro. Ele não usa a retórica do crescimento, da prosperidade, e sim do combate ao mal, da punição dos culpados. Muitos dos eleitores mais vingativos e rancorosos entendem que o que receberam do PT foi uma promessa corrupta [de melhoria de vida]. Portanto, o voto deles é punitivo.
Há algumas dificuldades para incluir a figura de Bolsonaro nesse diagnóstico, e um dos motivos para isso é que ele age ostensivamente como alguém sádico, às vezes, como alguém que ri do sofrimento do outro. Mas essa ação não reflete uma atitude real perversa. Então, parece mais alguém que está dominado por uma fantasia de perversão. Na prática, o que a gente vê são muitas declarações que depois são revertidas. Ele xinga e depois diz que estava brincando; ameaça indígena, mas era só um modo de dizer; homenageia um torturador, mas aquilo já passou. É como se isso fosse um excesso da sua personalidade, mas que humaniza mais do que desumaniza. Está no campo da patologia narcísica, que é a patologia dos tiranos. Para ser um tirano eficaz, o sujeito não pode ser um verdadeiro perverso ou sociopata. Tem que ser meio débil, meio incapaz de separar o público do privado.
No fundo, Bolsonaro seria movido por um sintoma social que a gente chama de cinismo, no sentido de orquestrar os efeitos do que diz e do que faz, como uma espécie de oscilação calculada entre o registro da fala privada e o registro da fala pública. Ele pode dizer que vai trocar o diretor da Polícia Federal, porque está protegendo seus filhos, e isso não cai como uma corrupção. Cai como alguém que pode passar por cima da lei, que pode fazer a justiça com as próprias mãos. E muitos concordam com isso. Para os amigos e a família, tudo.
É a ideia de que, se você quiser se conectar comigo, vai ser melhor. De que você se empodera por meio da identificação comigo. É uma regra que traz a crueldade e que tem no seu horizonte a ameaça. Isso é próprio de líderes autoritaristas e até populistas. Mas é um populismo que se difere do Lula, porque é segregatório, não inclusivo. Bolsonaro não é uma pessoa perversa, mas promove a perversão das instituições. Isso vale tanto para as instituições que aderiram a ele, quanto para aquelas que ele está atacando.
A maior parte dos eleitores de Lula entendeu a eleição de Bolsonaro como uma farsa, como um engasgo democrático, com estratégias ligadas às redes sociais e com o apoio de civis e pastores que funcionaram como cabos eleitorais. Acreditam que as pessoas foram enganadas, mas que basta esclarecê-las para elas voltarem ao seu estado de funcionamento normal. A eleição no Senado e na Câmara, dos governadores e dos deputados estaduais mostraram uma realidade diferente dessa. As pessoas realmente sabem o que estão fazendo. A pujante votação [de bolsonaristas] consagra um outro projeto de Brasil, no qual prevalece a ideia de que se pode deixar morrer pessoas que têm menos recursos. Tomando como exemplo o trato com a saúde pública na pandemia, isso foi sancionado pelas pessoas.
O que a prática bolsonarista faz é dizer que o poder pessoal é que vale. O pai manda, o filho obedece. O homem manda, a mulher obedece. Essa forma de poder personalizada é que está em jogo. Eles não querem destruir as instituições por destruir. Eles querem transformar a autoridade simbólica naquela baseada no poder de opressão. Por isso, consideramos essa prática bolsonarista muito mais como um discurso que já existia e que procurou em Bolsonaro o seu catalizador, do que como a força de uma pessoa que parece muito débil e pouco inteligente. Isso pode ser caótico do ponto de vista de como se organiza uma nação. Pode dar muito errado, e é provável que dê.
O bolsonarismo vai continuar. Precisamos reconhecer que é um movimento popular, que entrou nas camadas menos favorecidas. Ele produz organicidade na ação entre as pessoas e reconhecimento entre os envolvidos. É um movimento que tem a possibilidade de se reproduzir, de se recompor e de enfrentar revezes.
Esse discurso como laço social precisa ser enfrentado de forma metódica, com mais força e com mais potencial de coerção, inclusive, dos órgãos reguladores da imprensa, de órgãos reguladores do uso da máquina digital e das concessões públicas. Precisa ser enfrentado como algo bastante perigoso para a institucionalidade do país. Isso vai demandar que se fale um pouco mais a linguagem do próprio bolsonarismo. Que a gente apreenda que há, sim, uma parcela que só vai se transformar pela força. Pode ser pela força da palavra, pode ser pela força da lei. Mas, durante algum tempo, vai ser necessário para que a gente consiga implantar uma educação política, para responder às insatisfações legítimas por trás do bolsonarismo. Ainda que a forma seja desastrada, não democrática e autoritária, ela tem lá o seu grão de verdade. O Brasil tem quase metade da sua população muito insatisfeita. É preciso reconhecer que há demandas para serem tratadas, como a simplificação nas relações com o estado. Por exemplo, que o estado deixe de se demitir em certas áreas e em certas geografias do país. O estado se demitiu das prisões, e é fundamental retomar, reinstitucionalizar nossas prisões. O estado se demitiu de muitas comunidades – isso é um erro e tem consequência. O processo de “milicialização” do Brasil é um sintoma, porque o estado se demitiu de cuidar, de urbanizar a vida nesses lugares.
A ideia de que é possível governar com mais transparência pode ser posta em prática. No bolsonarismo, a transparência é a pessoalidade. É como um chefe de família fazendo contas domésticas, e não planejando o orçamento de um país. Isso está errado. Mas o que tem de verdade aí é que as pessoas querem transparência real. Não há nenhum motivo para não conversar mais. Existe um descompasso entre os recursos que temos hoje em termos de alcance de cobertura digital e a possibilidade de ação sobre o estado, de democracia direta.
Entrevista completa: https://theintercept.com/2022/10/23/entrevista-christian-dunker-a-corrupcao-de-bolsonaro-nao-afeta-sua-votacao/?fbclid=IwAR1kNwDds3kXZRO8KpdokzpIQWb0_fb35qCMKoosUjhmbwp2pmSvaLKT3H4