Esta entrada foi publicada em Ensaios por Fluctuare. Ligação permanente.
Ontem, deitei-me após algumas leituras sobre afélio e periélio (Hélio, Sol), apogeu e perigeu (Gea, Terra), aposelene e periselene (Selene, Lua), e respectivos sufixos gregos: “apo” para longe e “peri” para perto, no que respeita à posição relativa de um astro ou satélite em órbita ao redor de outro.
O afélio da Terra marca o Verão. O seu periélio, o Inverno. É curioso que, quando a Terra está mais perto do Sol, faça mais frio…
O maior apogeu e o menor perigeu da Lua ocorrem em Fevereiro/Março (Primavera). O menor apogeu e o maior perigeu da Lua em Setembro (Outono).
“Apogeu” é sinónimo de plenitude, clímax, auge. “Perigeu” soa próximo de “perigo”. Que perigo nos traz a Primavera? Lembrar Hölderlin: «onde mora o perigo, cresce também o que salva». Não é esta frase sinónima daquela outra, de Heidegger: «Na ruína está presente, surdamente, a reconquista»? Será perigo os ovos que chocam, o não saber o que vem, o começar do zero?
Hoje, acordei com algo a insinuar-se no pensamento: na posição do afélio, o afecto; na posição do periélio, o percepto. Afélio-afecto: a máxima extensão e largura, máxima potência. Periélio-percepto: ver tão ao perto que há perigo de choque.
Pensar que, com excepção do Outono, que é um mundo de tons, tonalidades, uma estação tonal, todas as outras são variantes de “ver”, verdade: Prima-vera (“primeira verdade”), Ver-ão (aumentativo, “verdade maior”), In-ver-no (“verdade no interior”). A verdade no interior (contenção) é um gelo, comparando com a verdade que aumenta, se expande, e aquece. Perceptos gelados. Afectos calorosos.
http://flutuante.wordpress.com/2008/12/14/perceptos-por-perto-afectos-ao-longe/