o Realismo Externo
Realismo externo é a visão de que há uma realidade que existe independentemente de nossas representações dela. Eu não penso que haja algum questionamento de que o realismo externo é verdadeiro e mais importante e que ele é um pressuposto necessário de grande parte da nossa ciência e de nossa comunicação com o outro. Se eu lhe perguntar “está chovendo?”, não estou perguntando sobre o seu estado de espírito, mas sobre o estado do tempo que existe de forma totalmente independente da sua mente ou de qualquer outra pessoa.
o problema semântico da Experiência Perceptiva
Percepção, como crenças, desejos etc, tem intencionalidade. Intencionalidade é apenas essa característica da mente pela qual é dirigida a ou sobre objetos e estados de coisas do mundo, e na medida em que há um “problema semântico” da experiência perceptiva, é precisamente o problema em explicar essa relação. Como é possível que as nossas experiências subjetivas internas qualitativas possam dar-nos conhecimento objetivo de uma realidade que existe independentemente?
os Estados Alterados de Consciência
Nós realmente não temos uma noção científica clara de “estados alterados de consciência”. Às vezes você pode obter uma melhor compreensão do caso normal estudando o caso degenerado ou patológico. A história da ciência da mente está cheia de exemplos. Talvez um dos exemplos mais interessantes é o que Weiskrantz chamou de visão-cega em que o paciente pode relatar eventos que ocorrem em seu campo visual, embora por causa dos danos ao seu cérebro, ele não possa ter qualquer experiência consciente desses eventos.
Outro exemplo famoso de estados alterados de consciência é o caso dos pacientes com cérebro dividido. São pacientes que, para curar a epilepsia, sofrem uma separação cirúrgica entre os dois hemisférios pelo corte do corpo caloso. Como resultado, verifica-se que o paciente aparentemente passa a ter dois centros de consciência, um em cada hemisfério; função essa, pelo menos em parte, independente uma da outra. Então, se você mostrar uma colher para o hemisfério direito e perguntar ao paciente: “O que você vê?”, o paciente diz, por seu hemisfério esquerdo ser onde ele tem a linguagem: “Não vejo nada”. Mas ele, então, estende a sua mão esquerda, que é controlada por seu hemisfério direito, e pega a colher.
Muito pode ser aprendido sobre a consciência através do estudo de tais estados patológicos.
o Principal Problema Filosófico do Início do Século
O principal problema filosófico da época atual é dar conta de nós mesmos como consientes, mentais, racionais, tendo livre-arbítrio, políticos, estéticos, sociais, que falam uma língua, enfim, seres morais em um mundo conhecido que consiste inteiramente de inconsciência e partículas físicas sem sentido. Talvez tenhamos que desistir de alguns de nossos pressupostos sobre nós mesmos. Talvez, por exemplo, não sejamos capazes de manter a nossa concepção tradicional da liberdade da vontade. Mas a pergunta mais interessante na Filosofia de hoje, na verdade eu diria que a questão mais excitante na vida intelectual hoje, é encontrar uma forma de tornar a nossa realidade humana e consistente e uma extensão natural do que conhecemos como a realidade básica.
John Rogers Searle (31 de julho de 1932) é professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia, EUA
http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/35/artigo255502-3.asp