Por Uma Arte Liberadora da Vida
Nietzsche rompeu com toda a tradição do pensamento filosófico ao questionar a origem dos valores criados ao longo de toda a história da humanidade. Não se resignando às conceituações estabelecidas, muito menos se rendendo a explicações divinas ou inatas a respeito, Nietzsche, à maneira de um arqueólogo, examina os vestígios da civilização e faz uma descoberta impactante: são forças em conflitos que produzem os valores.. Conflitos de interesse entre grupos, de maneiras de enxergar a vida; faíscas pelo poder. É desse emaranhado de pressões político-filosóficas que serão cunhados os princípios e regras que regerão um grupo, uma sociedade.
Mas nossos valores não expressam uma vida alegre, afirma Nietzsche. O ser humano não foi capz de se libertar de seus fantasmas existenciais – medos, dor, perdas, morte – e o seu desejo de conservação (reativo) se sobrepunha ao de criação (ativo). Assim, os valores que vinham sendo erigidos por essa via nada mais eram senão inevitáveis resultados de uma vontade impotente para superar o estado das coisas e as inconstâncias próprias da natureza. O caos, o obscuro, o imponderável e o intempestivo passaram a ser vistos como uma ameaça e, como tal, deveriam ser afastados da existência. A partir de então, segue o filósofo, passou-se a malquerer a vida terrena e idealizar a salvação humana em um mundo tido como superior, celestial, metafísico.
Dessa perspectiva ascética, planos transcendentes de organização da vida e sistemas de julgamento foram criados. Emergia-se então a lógica da punição e recompensa: estabelecia-se um bem e um mal, um certo e outro errado, legitimavam-se tipos de conduta e reprimiam-se outros sempre com base nessas orientações reativas; caso a sua postura estivesse de acordo com a ordem estabelecida, você usufruía de todos os direitos de uma vida em sociedade; em caso contrário, o limite era a morte.
É por essa via que Nietzsche se lança: para construir uma filosofia do futuro, uma nova cultura, um novo tipo de ser humano, uma nova arte, seria necessário abraçar a existência por inteiro. Afirmar o caos e não negá-lo. Com isso em vista, deveríamos superar – transvalorar – todos os valores regentes até então.
Ora, mas trilhar por um caminho desses, que nos tira totalmente do chão em que pisamos, tenderia a nos levar ao desprezo pelo (demasiado) humano e suas maneiras de viver, não é mesmo? Como se isso não bastasse, essa linha de pensamento nos conduziria inevitavelmente à loucura. Contudo, continua Nietzsche, para percorrer essa jornada, o aventureiro- guerreiro deveria ter uma determinação inquebrantável para não se perder nesse deserto e não se envaidecer com as conquistas que for adquirindo: vontade de potência.
Por Uma Arte Liberadora da Vida – Alexandre Gottardo – Coleção Guias de Filosofia, NIETZSCHE vol.4 – Ed. Escala
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