por Rafael de Paula Aguiar Araújo
A Dromologia é citada por Paul Virilio (Baitello, 1993, 1997) como estudo da velocidade – e, portanto, do movimento – que se impõe nas sociedades modernas
pela compressão do espaço a partir dos transportes e dos meios de comunicação. A consideração do tempo na mídia eletrônica, exponencialmente na Internet, implica considerar a velocidade imediata propiciada pela eletricidade no intercâmbio de informações e, por essa mesma característica, a imobilidade que induz aos indivíduos, na medida que a multiplicidade de significados que se ofertam são efêmeros e descartáveis. Essa multiplicidade e essa velocidade sugerem um cenário em que há pouco espaço para a reflexão e para o contato com o mundo, elementos essenciais para a constituição do civismo.
Não se pode mais dominar o espaço, pois tornou-se um não-espaço. Segundo Paul Virilio (1997), o não-lugar é o espaço de deslocamento entre dois pontos conhecidos, de tal forma que o espaço virtual é também um não-lugar. Tampouco se pode dominar o tempo, pois não corresponde mais ao corpo biológico ou aos fenômenos da natureza, acelerado ao extremo, é autônomo e autotélico. O tempo construído pela mídia eletrônica caracteriza-se pela superficialidade com que os significados são veiculados, mas também por sua velocidade.
A velocidade, segundo Virilio (1993), é o capital das sociedades modernas. A realidade não é mais definida temporal e espacialmente, mas virtualmente. É possível estar em todo lugar e não estar em parte alguma. Essa realidade é considerada de forma messiânica por alguns autores, como possibilidade de potencializar a democracia, mas, de fato, é preciso cuidado com essa afirmação. É possível considerar, de forma antagônica, que há uma dissimulação das possibilidades políticas, uma vez que se inflaciona o senso comum e se aniquila o pacto ancestral que o homem tinha com a imobilidade, com a escuridão, com a exaustiva busca de significados para a existência. Esse pacto sempre foi condição para a constituição do cidadão participativo, pois o pensar, como característica humana, precisa de certa temporalidade para que se realize.
De acordo com o futurista italiano Filippo Tommaso Marinetti (1968), a velocidade é a violência em todos os âmbitos. Virilio, em sua obra Velocidade e Política (1997), faz uma importante análise da maneira como a velocidade foi se impondo ao longo da globalização, propiciando a guerra continuada pela busca desenfreada de velocidade. Contemporaneamente, a ideia de aldeia global nos apresenta um mundo acostumado à velocidade e com a eliminação dos espaços de forma contundente. Virilio (1997) fala de cidades virtuais para tratar a maneira como o ciberespaço tem sido usado para trocas simbólicas e econômicas sem que o território se imponha como a questão central. Pelo contrário, pois nesse novo cenário, o espaço cede importância ao tempo.
ARAÚJO, R. Internet e educação: a compressão espaço-temporal e o civismo. Brasília: E-legis n.7, p. 59-72, 2º semestre 2011
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