“Esquematicamente, a intenção do fotógrafo é esta:
1. codificar, em forma de imagens, os conceitos que tem na memória.
2. servir-se do aparelho para tanto;
3. fazer com que tais imagens sirvam de modelos para outros;
4. fixar tais imagens para sempre. Resumindo: a intenção é a de eternizar seus conceitos em forma de imagens acessíveis a outros, a fim de se eternizar nos outros”. (Trecho do livro, A filosofia da caixa preta, de Vilém Flusser)
O esloveno Evgen Bavcar (se lê: “E-u-gen Ba-u-char”), é considerado um dos mais importantes artistas contemporâneos vivos, estudou História na University of Ljubljana, é doutor em Estética pela Universidade Sorbonne, em Paris, filósofo, cineasta e fotógrafo e seu grande destaque merece ainda mais atenção por ele ser cego. Bavcar relata no documentário Janela da Alma (2002), de João Jardim e Walter Carvalho, que ficou cego por volta dos 12 anos em conseqüência de dois acidentes; no primeiro, um galho de árvore atingiu seu olho esquerdo, já no segundo acidente, um detonador de minas atingiu o olho direito. Bavcar diz ser uma vítima da guerra, posterior a guerra. Ainda neste documentário, o fotógrafo conta que:
A cegueira de Bavcar não o impossibilita a criação imaginativa e nem torna a foto numa pura imitação. A arte está numa dimensão que transcende a estrutura de um “olhar”, extrapola a dimensão da técnica pura e se transfere para o resultado da imagem e ao ato fotográfico.
O filósofo fenomenologista frânces, Maurice Merleau-Ponty, realiza uma meditação sobre corpo, o olhar e suas relações com o mundo e com a pintura no ensaio O olho e o espírito. Neste livro encontramos um trecho que ajuda a entender o trabalho de Bavcar, “A visão não é a metamorfose das coisas mesmas em sua visão, a dupla pertença das coisas ao grande mundo e a um pequeno mundo privado. É um pensamento que decifra estritamente os signos dados no corpo. A semelhança é o resultado da percepção, não sua motivação. Com mais forte razão, a imagem mental, a vidência que nos torna presente o que é ausente, de modo nenhum é como uma abertura ao coração do Ser: é ainda um pensamento apoiado sobre indícios corporais, desta vez insuficientes, aos quais ela faz dizer mais do que significam.”
Bavcar conta que as imagens surgem primeiro como ideias, e as fotografias são feitas com a ajuda de outras pessoas, que descrevem para ele o mundo externo. “É um ato mental, antecipado na minha cabeça.”
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