DEVANEIO
Chininha reponta um sonho
na lonjura ensimesmada
de mais um domingo igual.
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Chininha encomprida os olhos
que se confundem – tão verdes!
ao verde do pastiçal.
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– Por que o peito me buliça?
Chininha assim se pergunta
quase sabendo a resposta.
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Num pedacito de espelho
Chininha indaga o destino
– Será que o João não me gosta?
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Madruga um sorriso esquivo
só olhar, no olhar tão verde
que se entrefecha ao mormaço.
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– Ai, um dia…ai, um dia
João me leva – sei pra donde!
na garupa do picaço!
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Ai, se o pai adivinhasse,
ai, meu Deus, se a mãe soubesse
do beijo que o João roubou!
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Quando estourou a carreira
todo mundo olhou pra cancha,
menos João…João não olhou.
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Chininha sonha acordada
mordendo a ponta da trança
do lado do coração.
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E o laçarote da trança
fazendo cosca nos lábios
parece a boca do João…
(RILLO, 1986, p. 142)