CONFERÊNCIAS SOBRE O PRAGMATISMO As Categorias (continuação)texto I Terceiridade DegeneradaA Categoria-Primeiro é a Ideia daquilo que é independente de algo mais. Quer dizer, é uma Qualidade de Sensação. Categoria-Segundo é a Ideia daquilo que é, como segundo para algum primeiro, independente de algo mais, em particular independente de Lei, embora podendo ser conforme uma Lei. O que é dizer, Reação como um elemento do Fenômeno. Categoria-Terceiro é a Ideia daquilo que faz de Terceiro, ou Medium, entre um Segundo e Seu Primeiro. Quer dizer, é Representação, como um elemento do Fenômeno. (p. 25) ![]() Julian Opie
Em Conferência IV – REALIDADE DA TERCEIRIDADE (…) a Terceiridade é operatória na Natureza. (…) Terceiridade é para mim apenas um sinônimo de Representação (…) um princípio geral operatório no mundo real tem natureza de Representação e Símbolo porque seu modus operandi é o mesmo pelo qual as palavras produzem efeitos físicos. (…) As palavras provocam mesmo efeitos físicos. (…) Mas como é que produzem esses efeitos ? Não atuam diretamente na matéria. Como símbolos, sua ação é meramente lógica. Não é sequer psicológica. (…) Mas a forma por que os pensamentos atuam sobre as coisas está hoje em dia fora do nosso alcance… (p. 29/31) COMENTÁRIO Peirce distingue três instâncias psico-físicas que operam o processo que conduz a inteligência a representar idéias por meio (medium) de signos. A primeira instância da cognição é a “mera sensação”, resultado de uma percepção resultante de contato sensorial. Algo que se vê, se ouve, se sente, como textura, sabor ou odor. Na segunda instância, de fato, simultânea à primeira, as faculdades mentais entram em ação registrando e comparando a experiência presente com anteriores. É a instância da formação e interação das idéias. O terceiro momento, contempla a Representação, ou seja, a instituição de uma expressão estável (objeto real concreto ou abstrato) como signo representativo da coisa percebida e assim, conhecida, tornada passível de ser re-conhecida, interpretada e reinterpretada no curso de suas possíveis ocorrências. A Terceiridade de Peirce é a instância mental de representação das idéias, de geração de signos.
SÍMBOLO, ÍNDICE e ÍCONE O representamen (…) divide-se por tricotomia em signo geral ou símbolo, índice e ícone. O ícone é m representamen que preenche essa função em virtude de característica própria que possui, mesmo que seu objeto não exista. Assim, a estátua de um centauro (…) representa um centauro (…) exista ou não o centauro. (…) Índice é representamen em virtude em virtude de uma característica que deve à existência de seu objeto, e que continuará tendo quer seja interpretado como representamen ou não. Por exemplo, um antiquado higrômetro é um índice. (…) Símbolo é um representamen que preenche sua função sem qualquer similaridade ou analogia com seu objeto e é igualmente independente de qualquer ligação factual, símbolo unicamente por ser interpretado como reresentamen. Por exemplo, uma palavra genérica, uma sentença, um livro. (p. 28 – As categorias) INTERPRETANTE Um representamen [signo] que contribui para a determinação de outro, chamo-o interpretante. Cada representamen está (ou pode estar) ligado a uma coisa racional, o objeto, e encarna uma qualidade, que pode ser chamada a significação… (p. 40 – Conf. V, As três espécies de excelência) REMA, PROPOSIÇÃO E ARGUMENTO Um representamen (como símbolo) é rema (termo), proposição ou argumento [como composição de signos]. Argumento é um representamen que mostra separadamente o interpretante que determina. Proposição é um representamen que indica em separado o objeto que representa. Rema é uma simples representação sem partes separadas. (p. 40) ABDUÇÃO, DEDUÇÃO E INDUÇÃO (…) nos Primeiros Analíticos (…) Aristóteles (…) tateava o modo de inferência que denomino pela palavra inusitada de abdução (…) As três espécies de raciocínio são Abdução, Indução e Dedução. (…) Dedução (…) É o da matemática. Parte de uma hipótese, cuja verdade ou falsidade nada tem a ver com o raciocínio, e cujas conclusões são igualmente ideais. Indução é fazer o teste experimental de uma teoria. (…) Acompanha uma teoria e mede o grau de concordância dessa teoria com os fatos. (…) Abdução [inferência] consiste em estudar fatos e inventar uma teoria para explicá-los. (p. 41) Dedução prova que algo deve ser; Indução mostra algo que atualmente é (…) Abdução faz uma mera sugestão de algo que pode ser. (p. 46)
texto II
Se podemos pensar sem signos À luz dos fatos externos, os únicos casos de pensamento que podem encontrar-se são de pensamentos-em-signos. Nenhum outro pensamento pode ser mostrado através de fatos externos. (…) O único pensamento que pode conhecer-se é pensamento-dentro-de-signos. Mas pensamento que não possa conhecer-se não existe. Todo pensamento, portanto, deve necessariamente existir em signos. (p. 68) QUATRO INCAPACIDADES NO HOMEM 1. Não temos capacidade de Introspecção, e todo conhecimento interior deriva de nosso conhecimento de fatos externos através de raciocínio hipotético. 2. Não temos poder de Intuição; cada cognição é logicamente determinada por cognições prévias. 3. Não podemos pensar sem signos. 4. Não concebemos o absolutamente incognoscível. (p. 72) (…) o que for que pensemos, temos presente à consciência ou sensação, imagem, concepção ou outra representação servindo de signo. (…) um signo possui três referências: primeiro, é um signo para um pensamento que o interpreta; segundo, é signo para algum objeto que se lhe equivale nesse pensamento; terceiro, é signo sob algum aspecto ou qualidade que o liga ao objeto. (p. 72)
EMOÇÃO E COGNIÇÃO (…) não há impressão que não seja também representação (…) sempre que alguém sente, pensa em algo. Mesmo as paixões que possuem objeto definido – como a melancolia – só chegam à consciência fazendo tinir os objetos do pensamento. (…) uma emoção é sempre um predicado simples substituído por outro complicado através de uma operação mental. (p. 76) Uma coisa é signo daquilo que lhe está associado por semelhnça, contigüidade ou causalidade; o signo relembra a coisa significada. A associação de idéias consiste (…) em um juízo ocasionar outro, do qual é signo (..) isto é (…) inferência. (p. 80) HOMEM-SIGNO (…) que entendemos nós por real ? (…) realidade sem representação não possui relação nem qualidade. (…) não há elemento na consciência que não possua algo correspondente na palavra (…) Se cada pensamento é um signo e a vida é uma corrente de pensamento, o homem é um signo (…) porque o homem é o pensamento. É difícil para o homem entender isto, pois persiste em identificar-se com a vontade, com seu poder sobre o organismo animal, a força bruta. Ora, o organismo é tão-somente um instrumento do pensamento. (p. 81/82) OBJETOS DO SIGNO IN Correspondência: a William James Deve-se distinguir entre Objeto Imediato, isto é, o Objeto como representado no signo, e o Objeto Real (…), ou antes, Dinâmico, que, pela própria natureza das coisas, o Signo não consegue expressar, podendo apenas indicar, cabendo ao intérprete descobrí-lo por experiência colateral. (p. 111) IN ESCRITOS NÃO PUBLICADOS Interpretantes Lógicos A coisa que provoca um signo é chamada objeto representado pelo signo: o signo é determinado para alguma espécie de correnpondência com aquele objeto. (…) In Lady Welby, What is Meaning ? Uma palavra tem significado para nós na medida em que somos capazes de usá-la para comunicar a outros o que sabemos e obter o saber que os outros procuram comunicar-nos. Esse é o mais baixo grau de significado. O significado de uma palavra é mais precisamente a soma total de todas as predições condicionais de que a pessoa que a usa [a palavra] pretende tornar-se responsável ou pretende negar. (p. 121) INTERPRETANTE O Signo cria algo na mente do Intérprete, algo esse que foi também, de maneira relativa e mediata, criado pelo Objeto do Signo, embora o objeto seja essencialmente diverso do Signo. Ora, essa criatura do signo chama-se Interpretante. (…) A força do Interpretante está em juntar diferentes assuntos que o Signo representa como relacionados. (p. 122/123) Para o significado resultante de um signo proponho o nome de interpretante do signo. (…) o interpretante 9…) é tudo aquilo que é explícito no signo extraído do contexto e das circunstâncias da verbalização. (ESCRITOS NÃO PUBLICADOS, p. 130) INTERPRETANTES LÓGICOS: COMENTÁRIO Peirce distingue três espécies de Interpretantes: 1. Emocionais 2. Energéticos 3. Lógicos O primeiro é o sentimento evocado pelo signo, seja sensação pura e simples, apelo físico; seja emoção, apelo psico-cultural. O interpretante energético corresponde à reação ou ação primeira, corporal ou mental que o signo desencadeia no sujeito como esforço de interpretação. O Interpretante Lógico é o significado que resulta do processamento lógico ou deliberado do pensamento sobre o signo e seus conteúdos, o emocional e o energético sugeridos em confronto com a circunstância de ocorrência. Sobre o Interpretante Emocional, comenta Peirce, que diante dele, “o sentimento de recognição (…) em alguns casos, é o único efeito significado que o signo produz” e exemplifica: “Assim, a execução de uma peça de música de concerto é um signo.” (PEIRCE, 1980 – p. 131) SEMIOSE (…) por semiose entendo (…) uma ação ou influência, que consiste em, ou envolve, a cooperação de três sujeitos: o signo, o objeto e o interpretante (…) Semeioses no período grego ou romano, à época de Cícero já, (…) significava a ação de praticamente qualquer espécie de signos… (p. 134) SEMIÓTICA (…) doutrina da natureza essencial e das variedades fundamentais de possível semiose. (p. 135)
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- SEMIOSE
Semiose é um fenômeno ancestral. Atividade catalizadora, viabilizadora de todas as demais faculdades da mente humana. É o ponto de partida para uma ontologia da consciência – estado de ser e estar consciente de si mesmo, das coisas à sua volta e das relações entre tudo isso. Pretender entender a semiose é pretender entender o entendimento. É querer flagrar a si mesmo a sofrer um fenômeno intermitente pois que estar consciente depende de “se entender” como vivo, existente. Pensar sobre semiose é pensar sobre o pensamento porque operar com signos precede a própria reflexão sobre o fato de que somente pensamos por meio de signos. Disse Descartes: ” penso, logo existo” . Porém, nem tudo que existe, pensa. Mas, se existo e digo “eu existo” , e represento para mim que existo, então com certeza, isso é pensar. Digamos então: se sei que existo é sinal de que penso!
Pesquisas em lingüística, psicologia, antropologia e semiótica admitem que linguagem e pensamento são duas faces de um mesmo fenômeno psíquico – que distingue o homem dos outros animais, pelo grau de desenvolvimento que aquelas faculdades alcançam na espécie. Por isso, falar de semiose é difícil. O fenômeno da significação se confunde, na bruma pré-histórica, com o fenômeno da humanização, ainda em curso, conquista gradativa, sem fronteiras definidas entre suas fases, do hominídeo ao homo-sapiens-faber-loquens ( pensante, fazedor e falante ). 3.1. FENOMENOLOGIA DA SEMIOSE O signo só existe se existe para alguém. Isto pressupõe um sujeito em relação com o signo ou, só há significação em estado de relação de mais de um. Qualquer signo só existe quando em ação e muitos estudiosos definem semiose como ação dos signos. A semiose – ou o fenômeno da significação – constitui-se numa relação de 3 elementos. São eles : SIGNO, SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO. Vejamos abaixo uma representação gráfica dessa relação: O intérprete está diante do signo em uma dada circunstância de ocorrência e, ao mesmo tempo, dispõe de um continuum (universo) de significados possíveis. Uma mensagem qualquer, visão ou ruído que despertou a atenção do sujeito. Nesse momento, a mente é acionada pela percepção desse estímulo: o signo ou, em geral, vários deles combinados. Operações do raciocínio processam informações e alcançam um significado. Entre o signo e o significado, existem inúmeras possibilidades de interpretação: são os significantes. Ou seja, o significado depende; depende sempre de um contexto, de circunstâncias, que o determinam, caso a caso. Há significados óbvios e outros, nem tanto. É fácil ler um bilhete em chinês se você é chinês. Mas nem sempre é tão fácil entender obras de arte. O fenômeno é sempre o mesmo: semiose. Mas o resultado final, o significado, é um mutante que varia conforme intérprete e ocorrências reais. Por causa desses diferentes modos de ocorrência da semiose, existe mais de um mecanismo que nos leva ao entendimento de uma proposição ou mensagem. O matemático e lógico alemão, Gottlob Frege (1848-1925), ocupou-se em refletir sobre a distinção entre sentido e significado dos sinais. Para ele, (…) o significado seria o objeto denominado ou denotado pela expressão; já o sentido conteria o modo de apresentação pelo qual o sinal fornece seu significado. (…) “estrela da manhã” e “Vênus” têm o mesmo significado, mas diferem quanto ao sentido (…) a afirmação “Vênus é a estrela da manhã” transmite conhecimento verdadeiro, ao passo que “Vênus é Vênus” não o faz, a saber, o conhecimento de que a estrela que aparece pela manhã é a mesma que aparece à tarde. [Frege, Vida e Obra. Luis Henrique dos Santos. In Frege. São Paulo: Abril Cultural, 1980 – p. 187] TRIÂNGULO DE FREGE O problema da distinção entre significado e sentido conduziu Frege a construir um modelo diagramático baseado na lógica geométrica das linhas que se cruzam entre os vértices de um triângulo. (…) sejam a, b e c – as linhas que ligam os vértices de um triângulo com os pontos médios nos respectivos lados opostos; nesse caso, o ponto de intersecção de a e b é o mesmo que o de b e c. Disso resultam diferentes designações [representações] para o mesmo ponto e essas designações [são] diferentes modos de apresentação (…) Desse modo, pode-se dizer que as duas expressões, a r b e b r c têm o mesmo significado, mas diferem quanto ao sentido. [Frege, vida e obra. Luis Henrique dos Santos. In Frege. São Paulo: Abril Cultural, 1980 – p. 187] As diferentes expressões ou sentidos do significado ou signo “x” x = a r b (a cartesiano b) x = a r c (a cartesiano c) x = b r c (b cartesiano c)
3.2. MECANISMOS DO ENTENDIMENTO A ciência semiótica aponta 03 mecanismos mentais através dos quais produz a semiose. Ou seja, são 03 diferentes maneiras de se chegar ao entendimento de alguma coisa. Entende-se alguma coisa, chega-se a um significado, por meio de diferentes relações entre as idéias. Entendemos por relação de (1) equivalência, ou através de (2) inferências ou por meio de (3) associações. São como caminhos mentais que conduzem a consciência aos significados. A diferença entre eles está no grau de complexidade e na qualidade de raciocínio que cada um deles requer para obter desde um entendimento propriamente dito, até simples reação, que também não deixa de ser função de um entendimento, deixando entrever um processo de significação. Os signos, servem diferentemente aos três mecanismos mentais. Diferentes coisas significam de diferentes modos. Entender música difere de entender poesias ou anúncios de jornal. Entender palavras do poema difere de entender o sentido dominante do poema. Para diferentes modos de entendimento há, portanto, diferentes mecanismos de entendimento processadores de diferentes combinações-ocorrências de signos.
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- SEMÂNTICAS
A semântica que conhecemos é simplesmente aquela parte da gramática que abrange os significados das palavras. Em semiótica, semântica é aquela dimensão do entendimento que nos dá conta dos significados de todo e qualquer signo ou de toda e qualquer composição sígnica ou proposição. A semântica, em semiótica, diz respeito a todo tipo de signo, e não somente das palavras escritas ou faladas e dá conta da compreensão também de imagens e sons e toda e qualquer informação que nos chega pelos sentidos e pela elaboração mental.
Quando queremos saber o significado usual, costumeiro, de uma palavra, recorremos, sem hesitar, ao dicionário. Entretanto, nem sempre o dicionário informa sobre os sentidos derivados em que as palavras são empregadas, como nas metáforas ou quando estamos diante de neologismos e gírias, por exemplo. Por isso os semiólogos, como Umberto Eco, ou lingüistas, como o dinamarquês Hjelmslev, definem a semântica como um vasto universo que compreende desde os significados restritos e usuais até aos significados possíveis, em função de relações associativas. Eco (1984) define muito bem o amplo espectro da semântica e distingue basicamente duas semânticas. São elas: SEMÂNTICA DICIONARIAL SEMÂNTICA ENCICLOPÉDICA A diferença entre as duas semânticas assemelha-se à distinção que usualmente se faz entre sentido amplo e sentido restrito de um termo, atendendo aos variados graus de complexidade do raciocínio solicitado à mente com o fim de se alcançar o entendimento diante da provocação de um signo ou conjunto de signos. Enquanto a semântica dicionarial fornece significados previstos, os mais comuns para cada termo da composição, a semântica enciclopédica ocupa-se dos significados possíveis, considerando as particulares relações entre os termos em casos de composições elaboradas, como nas metáforas, alegorias e ironias.
4.1. IDÉIAS DE HJELMSLEV Hjelmslev é linguista. Ele analisa o fenômeno da significação tendo como modelo a linguagem falada e escrita. Assim como outros linguistas, Hjelmslev observa que é possível encontrar significado em partículas mínimas formadoras das palavras. Isso porque, mesmo que isoladas pareçam insignificantes, tais partículas mudam, de fato, o sentido de uma palavra ou frase e, portanto, modificam o significado das proposições. Na língua portuguesa, a letra S, por si só, determina uma faceta de significado (de pluralidade) quando acrescentada ao final de uma palavra como no exemplo abaixo: COELHO e COELHO-S Evidentemente, um (01) coelho é uma coisa, enquanto que coelhos, já nos remete a + (mais) de um daqueles animais. A letra “S” modifica o entendimento. Outro exemplo: FELIZ e IN–FELIZ A DIFERENÇA DE SIGNIFICADO É ÓBVIA, ENTRE UM SUJEITO FELIZ E UM OUTRO IN-FELIZ. A partícula ou prefixo IN, FAZ A DIFERENÇA! A essas partículas, elementos compositores de palavras e/ou proposições, Hejelmslev denomina grandezas. Às relações entre as grandezas, ele chama função, adotando assim uma terminologia característica da física e da matemática. Percebe-se claramente que, em linguagem falada e escrita, as GRANDEZAS de Hjelmslev, correspondem ao que já conhecemos, EM GRAMÁTICA, como RADICAIS, SUFIXOS, PREFIXOS, DESINÊNCIAS DE TODO O TIPO, QUE INDICAM GÊNERO, TEMPO, QUANTIDADE, ETC. Também em outros tipos de linguagem veremos há elementos básicos que, quando se relacionam ganham sentido, “fazem” significado como em uma pintura: ali estão linhas, formas, Sete notas musicais, tempo, ritmo, compassos, intervalos, arranjo instrumental: são grandezas que compõem a obra musical. O mecanismo da semiótica é aplicável, ao que parece, a todo tipo de linguagem. O que Hjelmslev diz sobre textos, mensagens – escritos ou faladas, pode ser facilmente reconhecido em outras expressões semióticas. Concluí-se, pelo exposto, que o esquema semiótico antecede, ou pelo menos, é simultâneo ao operar de qualquer tipo de linguagem. Assim, o universo dos fenômenos semióticos contém, ou abarca, todos os fenômenos de linguagem. Isso significa que a semiótica – o operar mentalmente com signos – provavelmente precede o advento da fala e das demais “linguagens exteriores” como faculdade humana. TODOS OS SIGNOS SÃO GRANDEZAS SEMIÓTICAS MAS NEM TODAS AS GRANDEZAS SEMIÓTICAS SÃO SIGNOS Hjelmslev, Saussurre e outros observam que nem todas as grandezas semióticas são signos. Antes dos signos, teríamos as FIGURAS, que são partículas sem significado cujo VALOR, só aparece QUANDO tais GRANDEZAS estão EM RELAÇÃO entre si. Exemplo da língua portuguesa In = não SOMENTE EM PALAVRAS COMO INFELIZ, INVÁLIDO, INÚTIL, INDECENTE, etc. O mesmo tipo de exemplo em inglês Un = não Esse sentido – de NÃO – atribuído à partícula UN somente aparece quando tal partícula está em relação com outras grandezas significativas como nos seguintes casos abaixo: Unplugged Há palavras tão pequenas como partículas, signos diminutos como figuras, mas que com elas não se confundem, como em: – Vá! ou ainda – Go! Significado não é questão de TAMANHO da expressão mas de como funciona a expressão. De acordo com Hjemslev, se não funciona como proposição, se nada SIGNIFICA então ainda não é signo, é figura – porque SÓ É SIGNO O QUE SIGNIFICA.
4.2. HJELMSLEV: TRECHOS Eis alguns trechos extraídos de Prolegômenos a uma teoria da linguagem, uma das obras de Hejelmslev sobre os assuntos vistos acima: “O fato de que uma linguagem é um sistema de signos parece ser uma proposição evidente e fundamental que a teoria deve levar em consideração desde o início (…) quanto ao sentido que se deve atribuir (…) à palavra signo (…) devemos nos ater à definição tradicional (…) Ela nos diz que um signo (…) é (…) acima de tudo, signo de alguma outra coisa, particularidade que nos interessa desde logo pois parece indicar que um “signo” define-se por uma função. Um signo funciona, designa, significa. Opondo-se a um não-signo, um signo é portador de significação.” “As palavras deixam-se analisar em partes que são igualmente portadoras de significações: radicais, sufixos de derivação e desinências flexionais (…) talvez não seja supérfluo observar que a “significação” atribuída a cada uma dessas grandezas mínimas deve ser compreendida como sendo puramente contextual. Nenhuma das grandezas mínimas, nem mesmo o radical, tem existência “independente” tal que se lhe possa atribuir significações lexicais. (…) não existem significações reconhecíveis outras que não as contextuais (…) Considerado isoladamente, signo algum tem significação. Toda significação nasce de um contexto (…) É necessário, assim, abster-se de acreditar que um substantivo está mais carregado de sentido do que uma preposição, ou uma palavra está mais carregada de significação do que um sufixo, uma derivação ou uma terminação flexional.” SOBRE LINGUAGEM, REFLETE HEJELMSLEV: “As línguas não poderiam ser descritas como simples sistemas de signos. A finalidade que lhes atribuímos por suposição faz delas, antes de mais nada, sistemas de signos; mas, conforme sua estrutura interna, elas são sobretudo algo de diferente; sistemas de figuras que podem servir para formar signos. A definição da linguagem como sistema de signos não resiste, portanto, a uma observação mais profunda. Esta definição só presta conta das funções externas da linguagem, das relações da língua com seus fatores extralingüísticos, e não de suas funções internas.” BIBLIOGRAFIA ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget, 1984. HJELMSLEV, Louis Trolle. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Abril Cultural, 1978 – p.195/197. SAUSURRE, Ferdinand. As palavras sob as palavras. São Paulo: Abril Cultural, 1978. |
por:
Ligia Cabus do Nascimento
São Paulo: Abril Cultural, 1980. (coleção Os pensadores)
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