Do ponto de vista da química, a sublimação é uma passagem direta do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo estado líquido. O termo indica ainda um movimento de ascensão ou elevação daquilo que se sustenta no ar.
A Sublimação – Sublimierung – é um dos destinos da pulsão e consiste no processo de desvio das forças pulsionais sexuais para um alvo não sexual, em atividades socialmente valorizadas, como a arte, a ciência e o esporte. Diferentemente do recalque, que é outro destino da pulsão, e que vai da formação do sintoma à neurose, a Sublimação inclui a formação reativa, que vai firmar os traços de caráter, até chegar à disposição artística. Como possibilidades da Sublimação aparecem: sua ligação com o desejo, que impulsiona as criações humanas, e o humor, que bane o sofrimento e afirma a invencibilidade do eu. Depois da introdução da pulsão de morte, a Sublimação é vista como liberadora das pulsões agressivas do supereu, pulsões que lutam contra a libido, deixando o eu exposto ao perigo de maus-tratos e morte. Na Clínica Psicanalítica a Sublimação é percebida sempre que há transformação das pulsões em criações culturais, sendo este o propósito da análise: substituir a pulsão de morte por Eros. Lacan diz que na Sublimação há a elevação do objeto à dignidade da Coisa. Isso se dá na criação artística.
Pulsão designa em psicanálise um impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo. O comportamento gerado pelas pulsões diferencia-se daquele gerado por decisões, por ser aquele gerado por forças internas, inconscientes, alheias ao processo decisional.
A pulsão é uma montagem histórica e singular. Prescinde de um objeto preestabelecido, como no mundo animal, e sua satisfação passa por vários encaminhamentos. A pulsão tem vários destinos: pode ser recalcada, revertida em seu oposto, retornar em direção ao eu ou ser sublimada. Na sublimação a pulsão mantém seu teor sexual, modificando sua finalidade, que se desvia do sexual para o social. Para Marco Antonio Coutinho, o termo desvio surge sempre em Freud para falar da sublimação, enquanto afastar-se está ligado ao recalque. Afastar-se de algo implica em mantê-lo no próprio horizonte como referência, ao passo que desvio significa ir mais além…
A sublimação consiste, pois, numa das vicissitudes específicas da pulsão, sendo esta um estímulo mental constante, com renovável poder de pressão, que visa satisfazer-se. O conceito de pulsão se situa no limiar entre o somático e o psíquico, sendo um “limite de continentes, terra e mar, corpo e linguagem, volúpia da carne e volúpia da alma”, no dizer de Marília Brandão Lemos de Morais Kallas. A pulsão alude ao corpo como regido pelo princípio do prazer, diferentemente do corpo biológico da medicina. O corpo humano possui um sentido, uma articulação entre as zonas erógenas e o domínio das representações.
Recalque e sublimação aparecem paralelamente, na maioria das vezes, porque são os dois polos extremos das vicissitudes das pulsões. São as mais importantes formas de evitamento da realização sexual direta. No recalque, o sujeito permanece preso ao sexual, que é o ponto de referência para ele, no nível do proibido. Na sublimação, o sujeito deixa a referência à satisfação sexual direta e lida com ela na sua dimensão de impossível. Esse impossível da satisfação que está em jogo na pulsão encontra na sublimação sua possibilidade de manifestação plena, pois a sublimação revela a estrutura do desejo humano como tal, ao evidenciar que, para além de todo e qualquer objeto sexual, esconde-se o vazio da Coisa, do objeto enquanto radicalmente perdido.
Lacan vai dizer que na sublimação há a elevação do objeto à dignidade da Coisa. A Coisa (das Ding) é conceituada na obra freudiana como o objeto perdido de uma satisfação mítica.
Por trás de todo objeto sexual se esconde o vazio da Coisa, vazio esse inerente à própria estrutura da sexualidade humana. Como a sublimação é um ato em vias de produção, daí vem sua possibilidade de ser causa da criação e não se ligar ao que já foi criado. Ela traz a dimensão do novo e da transformação.
via:
Eliana Rodrigues Pereira Mendes
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952011000200007